24 outubro, 2007

FLAMENGO ATE MORRER

Há muitos textos por aí exaltando o "ser Flamengo", este aqui é um dos meus preferidos, claro, é uma versão mais resumida...

Falando sério, poucas instituições serão tão abrangentemente nacionais quanto o Flamengo - a Igreja Católica, sem dúvida, é uma delas, e, talvez, o Jogo do Bicho.
E olhe que o Flamengo não promete a vida eterna nem oenriquecimento fácil. Ao contrário, às vezes mata de enfarte e, quase sempre, só dá despesa. Mas uma coisa ele tem em comum com a religião e o bicho: a fé. Esta é a matéria-prima de que as três instituições se alimentam.
Mas com vantagem para o Flamengo, porque a igreja só paga dividendos depois da morte e o bicho tanto pode dar quanto não dar - já o Flamengo costuma pagar seus dividendos espirituais toda quarta e domingo. Em termos de alcance dos agentes dessa fé, então, não há comparação possível: o padre e o bicheiro são personagens locais, ao passo que os jogadores do Flamengo, via rádio ou TV, cobrem todo o território e são heróis (ou vilões) nacionais. Daí ele ser onipresente.
O Rio foi seu berço, mas sua casa é o Brasil. Sua camisa vermelha e preta viaja de canoa pelos igarapés; galopa pelas coxilhas; caminha pelos sertões; colore todas as praias; está nos barracosdas favelas e nas coberturas tríplex. Suas cores vestem famosos e anônimos, bandidos e vítimas, corruptos e honestos, pobres e grã-finos, idosos e crianças, os muito feios e as muito bonitas.
De repente, materializam-se nos lugares mais inesperados: já estiveram nas mãos de Frank Sinatra, no papamóvel de João Paulo II, nos peitos de Madonna. Mas, principalmente, tomam os estádios, em tantas tardes e noites quantas o Flamengo entrar em campo, não importa onde. Donde talvez não seja cientificamente exata a frase que, de tão usada, logo se tornaria clichê: a de que "o Flamengo é uma nação" - frase criada pelo deputado federal cearense Walter Bezerra de Sá há mais de trinta anos. Mais exato, talvez, seria dizer que, ao contrário, a nação é que é Flamengo. Segundo pesquisas veiculadas por órgão insuspeitos, o Flamengo é o clube de maior torcida do Brasil por qualquer categoria que se queira estudar.
Você escolhe: região, sexo, faixa de idade, nível de renda, cor da pele, plumagem política, grau de escolaridade, QI ou quantidade de dentes - é maioria entre os desdentados e os que nunca tiveram uma cárie. Sua presença no Rio é esmagadora: 42% dos cariocas são Flamengo. O restante se divide entre os quese repartem pelos outros clubes e os que, por esnobismo ou enmui, não se interessam por futebol.
Mas sua torcida não se espreme entre a montanha e o mar. Ao transbordar para todos os estados do Brasil, muitas vezes supera a dos próprios times locais. No norte e no nordeste, é esmagadora. Em Brasília, é, proporcionalmente, maior até do que no Rio. Em SP, é mais numerosa do que a da tradicional Portuguesa. É forte até mesmo no sul, onde os times de fora não costumam ter vez.
E existem quase cem clubes, profissionais ou amadores, de todos os estados do Brasil, chamados Flamengo. Bolas, por que não dizer logo? É, disparado, a maior torcida de futebol do mundo. Quando se pensa que, na Espanha, o clu be mais popular é o riquíssimo, sério e bem administrado Barcelona, tem-se vontade de chorar. A torcida do Flamengo não é apenas maior que a do Barcelona - é quase igual a toda a população da Espanha! E só por isso deveria ser sagrada para os indivíduos que uma minoria transforma em presidentes do clube.
"Flamengo, o vermelho e o negro" Ruy Castro - Ediouro - 2004
Beijos.

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