O Moralmente correto versus o justo
Oi pessoas!!senta que lá vem história.
Na hora mami enfaixou meu dedo com um tecido e mastruz e me deram remédio pra passar a dor, como era tarde de sexta-feira e ninguém por perto tinha um veículo , me levaram pra uma fazenda de um fazendeiro mais afortunado, no sábado pela manhã fomos ao hospital em Paraíso-TO, sucedeu que era pago, o médico me colocou numa maca e só me atenderam no domingo, quando meu padrinho conseguiu vender alguns sacos de arroz, porco, galinha, rapadura, essas coisas de gente da roça, um fazendeiro da região comprou tudo, só mesmo pra ajudar.
O fato foi que eu perdi o dedo, o pedaço do dedo, eu cheguei no sábado bem cedo e só fui atendida e medicada no domingo quase de noite, estava roxo e não tinha como ter salvado.
Talvez seja por isso o meu medo de médicos e hospitais. Mas passou. Eu nem me lembro mais disso..(ta eu lembro sim), dificilmente alguém nota que me falta um dedo e também isso não me incomoda em nada.
ok, agora vocês sabem que a dona iara não tem um dedinho, que nem o presidente!!
consta 650,00 reais, mas meu serviço não é pra vida toda e não me dá felicidade e procuro algo que realmente me realize e me dê certa estabilidade, que proporcione a compra de um carro, um apartamento, plano odontológico, ter uma mesa só minha, (é fútil, mas...) andar mais “arrumada”, aprender um idioma eu só sei o verbo to be, tirar férias digo ir ao litoral, falar melhor, minha dicção é péssima, eu me atrapalho toda, eu não quero ser a Iara da roça o tempo todo.
Em Tocantins o único jeito é em concurso público, o serviço privado pode até proporcionar tudo isso, mas é como agulha em palheiro, ou me falta os contatos certos ou inteligência e sei lá mais o que. Indústrias, fábricas, multinacionais, isso só daqui há muitos anos.
Então eu fui bisbilhotar a Lei (Decreto 3.298/99):
Art. 4o É considerada pessoa portadora de deficiência a que se enquadra nas seguintes categorias:
“I - Deficiência física - alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções”
Ta bom eu não entendo de porra nenhuma de Lei, se alguém puder ajudar, mas o que eu entendi é que é preciso “comprometer a função física” e não apenas ter um “segmento do corpo alterado”.
Porém é uma questão de interpretação e muita gente com dedo cortado, com a mao torta por conta de um acidente, entra em serviço público usando deste artifício, exemplos eu tenho aos montes.
Existe até uma classificação internacional pra coisa (até um corte ou extração de uma unha tem número): “S68.1 Amputação traumática de um outro dedo apenas (completa) (parcial)”.
É porque se fosse no polegar seria outra conversa por isso se fala em "outro dedo"
Ok, ok, ok, é legal?? Pode ser. É correto?? Bem.... se não está burlando a Lei...É justo? se é legal e é correto...
Mas eu não acho moralmente justo, certo, correto, etc. Sei lá, eu não consigo me imaginar na frente de uma junta médica dizendo que eu sou deficiente do “dedo mindim” (não estou contando com o ovo no fe-ó-fó da galinha é só um exemplo).
Derrepente eu estou discriminando e até sendo preconceituosa com as pessoas deficientes, nem é essa a intenção, enfim, eu já fiz minha inscrição no Concurso daqui do Estado pro Cargo de Economista e vou concorrer pro Sistema universal mesmo.
Fique claro que não quero um cargo público, ficar naquela vidinha ali sem perspectivas, quero apenas me aproveitar dele por um tempo.
Gostaria da opinião de vocês sobre o assunto, o que vocês me sugerem? eu fiz uma salada de temas, por isso dividi em “partes”, fique a vontade pra comentar sobre a parte que gostou ou não gostou.
Parte I:Em 1987 eu tinha 7 anos, morávamos na fazenda do meu padrinho (eu ficava mais tempo com ele..etc), estávamos fazendo rapadura, eu coloquei o dedo nas engrenagens no engenho, como estava sendo tocado pelo meu padrinho, deu tempo de parar as engenhocas e pegou apenas meu dedo.
Na hora mami enfaixou meu dedo com um tecido e mastruz e me deram remédio pra passar a dor, como era tarde de sexta-feira e ninguém por perto tinha um veículo , me levaram pra uma fazenda de um fazendeiro mais afortunado, no sábado pela manhã fomos ao hospital em Paraíso-TO, sucedeu que era pago, o médico me colocou numa maca e só me atenderam no domingo, quando meu padrinho conseguiu vender alguns sacos de arroz, porco, galinha, rapadura, essas coisas de gente da roça, um fazendeiro da região comprou tudo, só mesmo pra ajudar.
O fato foi que eu perdi o dedo, o pedaço do dedo, eu cheguei no sábado bem cedo e só fui atendida e medicada no domingo quase de noite, estava roxo e não tinha como ter salvado.
Talvez seja por isso o meu medo de médicos e hospitais. Mas passou. Eu nem me lembro mais disso..
ok, agora vocês sabem que a dona iara não tem um dedinho, que nem o presidente!!
Parte II:Bem, eu trabalho com CLT assinada e ganho mais que 1.000 e menos que 1.300, na carteira só
Em Tocantins o único jeito é em concurso público, o serviço privado pode até proporcionar tudo isso, mas é como agulha em palheiro, ou me falta os contatos certos ou inteligência e sei lá mais o que. Indústrias, fábricas, multinacionais, isso só daqui há muitos anos.
Parte III:De uns tempos pra cá, praticamente todo mundo que topo pela frente me manda fazer concurso pra vagas de portadores de deficiência. (é que normalmente é menos concorrido). Começou com meu antigo chefe e quase todos dizem que posso fazer, claro eu nem dei a mínima pra isso, várias pessoas me disseram que legalmente não estaria ferindo e nem burlando a lei e nem tomando a vaga de ninguém.
Então eu fui bisbilhotar a Lei (Decreto 3.298/99):
Art. 4o É considerada pessoa portadora de deficiência a que se enquadra nas seguintes categorias:
“I - Deficiência física - alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções”
Ta bom eu não entendo de porra nenhuma de Lei, se alguém puder ajudar, mas o que eu entendi é que é preciso “comprometer a função física” e não apenas ter um “segmento do corpo alterado”.
Porém é uma questão de interpretação e muita gente com dedo cortado, com a mao torta por conta de um acidente, entra em serviço público usando deste artifício, exemplos eu tenho aos montes.
Existe até uma classificação internacional pra coisa (até um corte ou extração de uma unha tem número): “S68.1 Amputação traumática de um outro dedo apenas (completa) (parcial)”.
É porque se fosse no polegar seria outra conversa por isso se fala em "outro dedo"
Ok, ok, ok, é legal?? Pode ser. É correto?? Bem.... se não está burlando a Lei...É justo? se é legal e é correto...
Mas eu não acho moralmente justo, certo, correto, etc. Sei lá, eu não consigo me imaginar na frente de uma junta médica dizendo que eu sou deficiente do “dedo mindim” (não estou contando com o ovo no fe-ó-fó da galinha é só um exemplo).
Derrepente eu estou discriminando e até sendo preconceituosa com as pessoas deficientes, nem é essa a intenção, enfim, eu já fiz minha inscrição no Concurso daqui do Estado pro Cargo de Economista e vou concorrer pro Sistema universal mesmo.
Fique claro que não quero um cargo público, ficar naquela vidinha ali sem perspectivas, quero apenas me aproveitar dele por um tempo.
Gostaria da opinião de vocês sobre o assunto, o que vocês me sugerem? eu fiz uma salada de temas, por isso dividi em “partes”, fique a vontade pra comentar sobre a parte que gostou ou não gostou.
Se você não acha correto, não o faça.
ResponderExcluirOi sou a Ká do twitter não li seu post. Vi que vc tem dúvida quanto a colocar hora no blog. Clica em painel de controle, configurações e formatação. Espero ter ajudado de alguma forma.
ResponderExcluirBeijas!!!
Não sei como é ai onde você mora, mas sei de lugares onde as cotas para deficientes nem sequer foram preenchidas por falta de candidatos.
ResponderExcluirEu não concorreria em um concurso como deficiente por não ter um dedo, me sentiria culpado depois; mas acredito que cada um deve se medir por si próprio.
Abraços!
Iara , terrível oque vc passou , lamentável.
ResponderExcluirPorém vc mesmo afirma que o dedo não te impede de fazer nada , creio que vc agiu correto.
Importante é estarmos bem com a nossa consciência.
Iara, minha ex-cunhada perdeu uma perna em um acidente. Sim, perder uma perda é bem mais terrível e complicado que perder o dedo mindinho. Acontece que ela é psicóloga e não usa a perna pra trabalhar. Tem todos os outros problemas que a perda de um membro assim pode ocasionar, mas não mudou nada no seu trabalho.
ResponderExcluirEm contrapartida, se você precisa digitar muito, a falta do dedo mindinho é sim um obstáculo. Mesmo que você acredite que conseguiu superar, nem sempre os contratantes enxergam dessa maneira.
Se fôssemos olhar pelo lado: "se você tem uma deficiência que te atrapalha pra fazer determinado trabalho, então procure outra carreira"... não haveria necessidade de vagas para deficientes, concorda?
Na minha opinião você deve ir atrás dos seus direitos, sem nenhum problema de consciência. Eles existem para acabar com o preconceito e dar oportunidade a todos.
Companheira, a luta continua.
ResponderExcluirSe fosse comigo, eu aproveitava a chance, mas acredito que deve haver uma perícia para examinar os candidatos.
Gostei muito dos bullets em forma de xícara na sua sidebar. Vou até ali servir um café.
adorei o artigo e o design do blog
ResponderExcluirIara, é muito descaso, atitudes como essa revoltam, você perdeu um dedo, muitos perdem a vida.
ResponderExcluirQuanto a sua pergunta sobre a deficiência, Muita coisa que é legal, é Imoral, isso só você pode decidir, e a mim só cabe respeitar a sua decisão.
beijos
oi Kazuya, sim, eu nao fiz. :) Eiii nao vai zerar na redação!!!
ResponderExcluirOi Ka Obrigada!!!!!!!!
Mas eu fui la e fiz e marquei, não deu certo.
Teilor Ainda bem que nao é somente eu que penso assim.
Eu senti que se eu fizesse estaria trapaceando.
Leticia ja passou. :)
Rô Bem, exatamente isso que muitas pessoas me disseram e eu fico meio sem entender e sem saber que lado eu me posiciono, se posso realmente ir atrás disso, ou se estou "burlando" "trapaceando" a lei.
ResponderExcluirSei lá, eu quero as coisas pra mim, mas quero por meitos.
Jhony
Eles olham o laudo medico, ma hora da posse voce leva alguns exames medicos exigidos por lei, e passa por uma junta médica.
Porém, pelo menos aqui onde eu trabalho (é orgão federal) o medico analisa 1º o laudo e depos o candidato.
Lugirão Hoje tem hospitais publicos, podem ate nao eixar na mca, mas também os hospitais nao sao nenhuma referencia em excelencia medica. :(
é duro morar no norte do brasil.
Sabe o ue é mais triste?? o medico que era dono do hospital (ja faliu) ja foi prefeito inclusive concorreu na eleição passada.
Sabe, Iara, nem sei como comentar já que você disse tudo no seu texto. Eu estou aqui com o coração feliz de saber que ainda existe pessoas como você que sabe o que é moralmente certo ou errado. Seja sempre assim, pois desse jeito você vai conseguir vencer na vida da maneira correta.
ResponderExcluir;o)
Olá Iara, não sou nenhum expert jurídico, mas como estudante de direito, tenho o dever de falar algo a respeito disso.
ResponderExcluirDe fato, você precisaria de um laudo médico/pericial que comprovasse a sua deficiência física. Duvido muito que algum médico ateste nesse sentido, já que (aparentemente) nenhuma das suas funções habituais essenciais ao trabalho são comprometidas pela ausência do membro. Seria como vc tentar se aposentar por invalidez "só" porque perdeu o dedo. Mas haveria uma possibilidade sim. Um bom advogado e um mandato de segurança resolveriam o problema, caso você usasse esse método, passasse e fosse impedida por algum laudo médico.
Entretanto, você tocou em um dos maiores pilares do Direito, ou seja, a relação entre moral, ética e Justiça. Foi muitíssimo acertada a sua decisão de não ceder à essa opção. Você com certeza será bem sucedida, pois tem talento, garra e principalmente vontade de trabalhar. Estude como puder, e entre pela porta da frente no serviço público. Deixe a janela para os moralmente incapazes.
Abraços
Iara!!!
ResponderExcluirVocê tem capacidade para ser o que quiser.
beijos.